segunda-feira, 26 de julho de 2010

Muricy, um novo exemplo

O trabalho de Muricy 
Sempre admirei o trabalho e a conduta de Muricy Ramalho. Gosto de suas entrevistas, desprovidas daquele discurso repetitivo e escandalosamente falso adotado por muitos de seus colegas. Ele derrapa de vez em quando, trocando a ironia pela deselegância. Mas reconhece o erro e tenta se controlar. Gosto de seu estilo de trabalho. Sério, dedicado ao extremo. É da escola de Telê Santana. E, assim como o mestre, Muricy é um vencedor. O tricampeonato brasileiro pelo São Paulo dispensa maiores comentários. Mas é fácil ser campeão em um clube tão forte e estruturado, podem imaginar alguns. Pois Muricy também foi campeão paulista pelo São Caetano e ganhou outros quatro estaduais, dois pelo Náutico, dois pelo Inter. Uma Copa Conmebol (São Paulo, 94) e uma Copa da China (Shangai, 98) completam seu currículo. Não foi por acaso que seu nome foi o primeiro a ser escolhido pela CBF.

Encontro no Rio
Minha admiração por Muricy aumentou na sexta-feira. Enquanto o mundo anunciava seu nome como novo técnico do Brasil, Muricy concedia uma entrevista a Marcello Carvalho, colaborador de web site que foi ao Rio de Janeiro entrevistar o treinador para um livro sobre o São Paulo, seu projeto de conclusão de curso. Em um dos dias mais importantes de sua carreira, Muricy, que tinha todos os motivos do mundo para cancelar a entrevista, atendeu Marcello. E o fez depois de falar com Ricardo Teixeira, antes de falar com Roberto Horcades.

Ele já sabia
Marcello Carvalho estava na hora certa, no lugar certo. Enquanto Muricy era anunciado como substituto de Dunga, ele ficou sabendo, da boca do treinador, que dificilmente o tentador convite para dirigir a Seleção Brasileira seria aceito. “Eu só saio se o Fluminense me liberar. E acho que isso não vai acontecer”, antecipou Muricy. Apenas muitas horas depois dessa conversa que a imprensa de todo País começou a noticiar que, ao contrário do que todos imaginavam, Muricy não assumiria a Seleção. E ele já sabia disso. Foi para a reunião determinado a não romper seu compromisso, mesmo que isso lhe custasse a chance com a qual sempre sonhou. Para honrar sua palavra, Muricy abriu mão de comandar a Seleção Brasileira que vai disputar, em casa, a Copa de 2014. Mais um ótimo motivo para admirá-lo.


Exemplo
É óbvio que o Fluminense vai oferecer a seu treinador um novo contrato, com valores vultuosos. Mas já faz muito tempo que Muricy ganha muito dinheiro. Na Seleção, também ganharia. É tanta grana que nem faz diferença. Mas Muricy disse não a uma coisa que ele ainda não teve e que, evidentemente, deseja muito. Disse não à Seleção Brasileira, mesmo sabendo que se perder três ou quatro jogos pode ser demitido, assim como foi Cuca, apesar de sua espetacular campanha na reta de chegada do Brasileirão 2009. Se o Flu liderava Série A até ontem, é porque Cuca impediu uma nova queda do clube. Cartolas não se importam com essas coisas. Muitos técnicos e atletas não se importam. Mas Muricy mostrou que é um cara sério num meio em que contratos não valem nada. Num meio em que clubes frequentemente justificam a venda de atletas sob contrato com a alegação de que “o jogador não quer mais ficar aqui”. Como se o jogador fosse o único interessado no negócio. A torcida do Fluminense deve respeito a Muricy. Para sempre. Na próxima coluna, o assunto será Mano Menezes.

Por: Júlio Nascimento
Foto: Gilvan de Souza


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